THAÍS LEMOS
Jornalista, marketeira e escreve sobre tudo e qualquer coisa
Desde que cheguei no mundo, envelhecer parece algo incômodo e que deve ser evitado a todo custo. Por conta da pressão social, comecei a fazer botox aos 27 anos, ao menor sinal de uma ruga no meu rosto. Abro qualquer rede social e vejo mulheres mais velhas sem nenhuma dobra aparente na cara – isso para não citar os corpos perfeitos. Mas no meu dia a dia, a realidade é discrepante: ninguém parece se importar e vivem a realidade com quase nenhum procedimento invasivo de beleza.
No meio dessa reflexão, lembrei de uma entrevista da Rita Lee (sempre maravilhosa) falando que há duas maneiras de envelhecer, como uma perua ou como uma feiticeira. Ela explica que para as “peruas”, o tempo é seu maior inimigo, enquanto para as “feiticeiras”, é seu maior aliado.
A sociedade exige que eu envelheça como uma perua, sem mostrar rugas, cabelos grisalhos, ou qualquer outro sinal de que eu estou nesse mundo há algumas décadas. Confesso que é tentador imaginar minha pele elogiada aos 50 anos de idade, mas me parece mais confortável – e infinitamente mais barato – aceitar as marcas do tempo.
Em um mar de botox e preenchimentos com ácido hialurônico do Instagram, envelhecer naturalmente parece um ato revolucionário. Mas, ao mesmo tempo, me parece que esse mérito é reservado a mulheres que tiveram grandes conquistas. Além da Rita, uma musicista gigantesca que conquistou seu espaço pela sua autenticidade, Fernanda Montenegro, única brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz, fez apenas uma cirurgia plástica em busca do rejuvenescimento e se arrependeu.
Será que a caixa da padaria próxima da minha casa, que faz um trabalho comum e, provavelmente, assim como eu, nunca fez coisas tão excepcionais como Rita e Fernanda, também é reverenciada por ter envelhecido sem procedimentos? Arrisco a dizer que não. E esse é o ponto: a sociedade sustenta que apenas mulheres com um histórico de conquistas excepcionais possam envelhecer em paz, aceitando as marcas do tempo como símbolo de sua autenticidade.
Enquanto isso, a mulher comum precisa lutar para ter o mesmo direito. No final das contas, talvez o ato verdadeiramente revolucionário seja simplesmente escolher envelhecer, sem pedir permissão.
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